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A terra deu, dá, cria e tira


Arte: Gabriella Borges

Coluna por Eduarda Nunes


No último mês assistimos a mais uma catástrofe de perdas irreparáveis e desdobramentos ainda desconhecidos. O fogo que tomou conta do Pantanal trouxe à tona, mais uma vez, no quão doentia o homem transformou sua relação com a natureza, a mãe terra. É como se não bastasse o óleo nas praias do Nordeste, as queimadas da Amazônia, o rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho e outros desastres da história recente do Brasil. Parece que é preciso reforçar, periodicamente, os horrores que a falta de preocupação humana sobre o próprio lugar no mundo causa. É preciso voltar lá atrás para entender que essa forma utilitarista e distante que a gente dá a nossa fauna e flora é mais uma das desgraças trazidas com os homens brancos das caravelas. Enquanto os povos originários aqui utilizavam nossas matérias-primas de forma muito respeitosa e intrínseca a si mesmos, os portugueses se danaram a comercializar nossos bens como forma de se autoafirmar e se demonstrar conquistadores. E um parêntese para negritar a importância de estar atento a quem conta a História, porque, no fundo, de conquistadores os europeus têm quase nada. Na verdade, eles saquearam, desestabilizaram e instrumentalizaram países e continentes inteiros para manter o bem estar de sua população. Usaram da violência em diversos âmbitos para se afirmar o auge da civilidade.

A Colonialidade, e Modernidade, se impõem no mundo com a tentativa de enfraquecer os saberes tradicionais e os costumes de intimidade com a terra: a partir de então o homem passava a ser a medida de tudo. Não é à toa que povos indígenas e africanos são tratados, a grosso modo, como primitivos, tribais, atrasados até hoje enquanto a Europa segue sendo um dos maiores anseios de quem vive aqui no terceiro mundão.

À medida que o tempo passa, o respeito à terra foi sendo soterrado por um individualismo cada dia mais brabo e suicida. Não só o nosso presente como também o nosso futuro é minado cotidianamente pois, já cantaram as Comadre Fulozinha, a terra gira com seu grande poder. Essa é uma poesia do alagoano Mestre Verdelinho que mais serve de aconselhamento do que qualquer outra coisa: a gente vive nessa terra que essa terra há de comer. E aí chegamos a mais uma década de 20, explorando nossos recursos naturais como se não houvesse amanhã e, em se tratando de Brasil, a gente vê um chefe de estado que se diz patriota e cada dia vulnerabiliza mais a sua nação. Um presidente que acha que não tem nada a ver com nada, se isenta do que quer. Se as leis ambientais foram enfraquecidas, os órgãos de fiscalização e controle foram instintos, e criminosos têm mais abertura para praticar seus crimes contra a terra, a culpa deve ser de algum jornalista, da Globo ou de alguém empenhado em manchar a imagem do presidente.

Defendamos o Pantanal, o mangue, as matas, as águas, a fauna. A terra deu, dá e tira.


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