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Disputado por campanhas, brega não está nos planos das principais candidaturas ao governo de Pernamb


Ilustração: Luca Delmas (@ludelmas)

Arte é política. Mesmo quando tentaram dissociar as duas, não houve espaço. Principalmente em 2022, após quatro anos de um governo que desvalorizou a cultura em âmbito federal. Em uma reflexão local para Pernambuco, podemos perceber a movimentação dos políticos de diferentes eixos políticos para a cultura brega do estado - a nossa música pop que ganhou o mainstream nos últimos anos.


Historicamente à margem das políticas culturais - como a falta de inclusão dos artistas nos ciclos festivos, nos editais e financiamento -, o movimento brega tem ganhado destaque na política institucional pernambucana desde as eleições municipais de 2020. Passados dois anos, quem tem proposta para o brega e brega-funk? Quais candidaturas assumiram compromisso com o gênero mais popular das periferias do estado?



Após o início da campanha eleitoral, ficou evidente a inserção do brega nas campanhas dos candidatos ao governo estadual ou ao Congresso Federal neste ano. Na matéria do repórter Emannuel Bento para o Jornal do Commercio, intitulada “Apoio do brega é disputado por candidatos ao Governo de Pernambuco”, mostra-se que as principais candidaturas utiliza - seja em jingles ou com apoio de artistas locais -, o brega como uma fonte de conquista de votos de pernambucanos.

Um artifício que já havia sido disputado pelas candidaturas de Marília Arraes, que agora concorre ao governo de Pernambuco, e de João Campos (PSB), nas eleições municipais do Recife em 2020. Eleito prefeito da cidade, o candidato do PSB instituiu o brega como Patrimônio Cultural Imaterial da cidade. Mas, na prática, poucas ações foram feitas desde o título.

Para além das estratégias de campanha, a Retruco analisou se o movimento está incluído nos programas de governo das candidaturas. Além da inclusão de outros movimentos culturais da periferia estão dentro de cada plano de governo das candidaturas de Marília Arraes (SD), Raquel Lyra (PSDB), Miguel Coelho (UB), Danilo Cabral (PSB), João Arnaldo (PSOL), Anderson Ferreira (PL) e Jones Manoel (PCB). As análises partiram do que cada candidato ou candidata cadastrou no site de prestação de contas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).


Marília Arraes (SD)

Depois do apoio eleitoral de parte do movimento brega nas eleições de 2020 à Prefeitura do Recife, Marília Arraes repetiu a estratégia ao chamar nomes importantes do movimento, como Troinha e o grupo As Fadas, para o seu principal clipe de campanha. Porém, ao analisar seu programa de governo, não há nenhuma menção ao brega ou inclusão do movimento nos editais, ciclos festivos ou incentivos financeiros à cadeia produtiva. Em sua proposta, ela traz tópicos como “participação de talentos em início de carreira nos eventos da Secretaria de Cultura e Fundarpe”, além da simplificação dos editais para a inclusão de grupos e artistas da cultura popular no estado.

Raquel Lyra (PSDB)

Também utilizando jingles que remetem ao brega-funk, Raquel Lyra não cita o movimento na sua proposta de governo. Para a cultura, a ex-prefeita de Caruaru e candidata pelo PSDB diz que “as manifestações artísticas, culturais e festivas são fundamentais para garantir a nossa própria identidade”. Ela cita também a economia criativa como um setor para gerar empregos e desenvolvimento econômico em Pernambuco. Além disso, há um tópico sobre a importância econômica e cultural do “Forró, o Frevo e o Maracatu, o São João de Caruaru e o Carnaval do Recife e Olinda”, mas não cita o brega entre as expressões.

Miguel Coelho (UB)


Miguel Coelho (UB) também não cita brega no plano de governo. Para a cultura, o candidato diz que vai criar o “Programa Cultura de Todos, valorizando as tradições culturais do estado, com o fomento para novos talentos culturais, como também com iniciativas visando a valorização da memória e a preservação do patrimônio histórico e cultural de Pernambuco”. Além disso, ele afirma que vai priorizar a cultura local e resgatar a “Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) como responsável pela preservação do patrimônio histórico e memória do estado”. No programa, há citações sobre intercâmbio cultural de talentos do estado e valorização da cultura nas escolas.

Anderson Ferreira (PL)

Mesmo em um estado que tem festividades importantes para o calendário cultural e turístico, como Carnaval e São João, Anderson Ferreira (PL) - candidato de Bolsonaro em Pernambuco - não escreveu uma linha sobre cultura.

Danilo Cabral (PSB)

Assim como João Campos em 2020, o correligionário Danilo Cabral utilizou bastante do brega-funk em sua campanha eleitoral. Seja pelo uso de influenciadores, cantores ou dançarinos, seja pela utilização de símbolos que remetem à cultura periférica - como o passinho, os óculos tipo juliet ou a estética dos malokas -, o candidato assumiu compromissos com o ritmo em eventos. No entanto, em seu programa de governo não há nenhuma menção ao gênero. Além disso, ele insere a cultura no campo da “economia da cultura”, como uma forma de incentivo aos talentos. Entretanto, não menciona sobre editais, festivais ou qualquer tipo de inserção da cultura popular nesse modelo de economia.


João Arnaldo (PSOL)


Outro candidato que não faz nenhuma menção à cultura brega do estado é João Arnaldo (PSOL). Para os planos da cultura, o político cita tópicos como “economia criativa”, “fortalecer os Conselhos e polos culturais no interior”; “fortalecer a política cultural do audiovisual”, “fortalecer e expandir o modelo do Conservatório Pernambucano de Música para o interior” e a “criação dos centros culturais comunitário”.

Jones Manoel (PCB)

Único candidato que cita o movimento brega no plano de governo, Jones Manoel (PCB) fala de outros elementos da cultura popular no seu programa, o qual dedica quatro páginas para o tópico de cultura. Jones considera como cultura popular “o brega, o brega funk e as disputas de passinho, as batalhas de rap e os recitais; a história viva da poesia oral, o rito e a brincadeira das festas populares, a cozinha popular, a ciência das raizeiras e benzedeiras, a potência das giras e romarias”. No plano mais completo para o setor, o candidato comunista propõe desde a criação de centros culturais comunitários a fomento das culturas dos povos indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais nas páginas dedicadas aos projetos de cultura pernambucana.

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